Tive uma fase na vida, que cansada de
justificar e argumentar algumas coisas, eu mentia. Não lembro bem, mas era
pré-adolescente, talvez com uns 11 anos. Tudo começou com uma mentirinha de
nada, que foi tornando proporção e que chegou num momento que eu já não sabia o
que havia mentido. Ao mesmo tempo que eram situações complicadas, estarei
mentindo se disser que não era divertido. Talvez fosse divertido pelo embaraçamento
que aquilo causava e também pela minha criatividade de reinventar outra mentira
e mais outra e outra.
Mas se tratando de mentir uma ou outra
coisinha a meu respeito, é diferente de mentir para ou de alguém
– especialmente quando se trata de mentir para si mesma. Quando acima
cito que tudo começou com uma mentirinha, trago como exemplo a mentira da minha
idade, quem sabe a descrição do lugar onde moro e etc. Mentiras aparentemente
tolas, mas que se tornavam uma bola de neve que não derretia rapidamente.
Quando dei por mim, que estava
mentindo demais e que aquilo fazia mal a mim e as pessoas que eu convivia, já
havia passado um ano. E aprendi que mentir é feio, da maneira mais trágica
possível.
Ali, no auge do ‘descobrimento do
mundo’, apaixonei-me por um grande amigo – aquele tipo que te faz despertar
novos interesses, apresentando novas bandas, novos amigos, fazendo você tomar
gosto por outro estilo de vida, cultura... Te levando a festas, convidando para
viajar e sendo parceria em todos os momentos. Apaixonei-me e nossa amizade foi
seguindo em frente. Foram anos de cumplicidade, mas nada além de amizade. Ele
dizia que a amizade é um amor que nunca morre e que poderia me magoar e
vice-versa e apesar de termos tido vivido muitas situações, o respeito e o
carinho mútuo permaneciam.
Cadê a mentira nesse episódio tão
inocente e singelo? Por aquelas tantas histórias e andanças, conheci muita
gente! Pessoas que passaram por minha vida e deixaram marcas na maneira de ser
e de levar a vida... Jovens e adolescentes de cidades diferentes e que se
encontravam virtualmente ou combinavam algo toda semana.
Indas e vindas, comum em qualquer
grupo que convive e se relaciona, tiveram ocasiões de conflitos, seja por
ciúme, inveja ou divergências de opiniões – mas, friso e faço valer, as
partilhas de vida, as fotografias, os aprendizados, as novidades, inúmeras
vezes o sorriso, a música, o filme, o abraço, o consolo e a diversão.
Com os sentimentos aflorados e até
devido a felicidade que sentia por fazer parte de uma turma tão dinâmica e
cheia de diferenças parecidas, eu costumava dizer “Eu te amo” para todo mundo.
Claro que era todo mundo que eu gostava e queria perto de mim... Porém, um
longo tempo depois, quando declarei meu amor por esse amigo, ele me respondeu
direto e objetivamente: “- Eu posso acreditar nisso? Você diz que ama todo
mundo!”
Obviamente que a conversa não terminou
ali. Ele pôs-se a contar suas experiências passadas, a importância de discernir
o que verdadeiramente sentimos e de como a verdade dita com compaixão é capaz
de fazer-se apaixonar por ela.
Aline Ruediger – Dezembro/2014
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